A guerra terminou. É hora dos combatentes regressarem para suas casas.
É tempo de sakura, época em que as pessoas chegam e partem de nossas vidas. E não importa o conteúdo daquela carta, com o carimbo do governo, ela deve ir até o porto. Ignorou aquela carta amarelada, esquecida no fundo de uma gaveta, mas, embora longe da sua visão, constantemente presente em sua mente.
Mariko vestiu o seu kimono mais bonito, branco, um pouco amarelado devido ao tempo, com desenhos de pétalas de rosa - o preferido de Kenichi - e um laço vermelho adornando a sua cintura. Seus longos cabelos, já grisalhos, ela os amarrou em um coque tradicional. E saiu.
Na rua, ignorava os olhares das outras pessoas. Não escutava os motores dos carros e não enxergava o sinal vermelho. Estava alheia ás pessoas a sua volta, apressadas, falando em seus celulares; aos estudantes rindo; crianças tomando sorvete; pessoas andando de bicleta; as máquinas de café, cigarro e outras coisas.
O caminho era longo até o porto. Andava, andava, andava. Nunca chegava.
Lentamente começava a perceber as manchas gigantescas ao seu redor, que tomavam forma de prédios e arranhas-céu. As casas próximas á praia haviam cedido lugar á modernização.
Começou com uma pequena batida entre os seios e se transformou em um sentimento de ausência, de perda. A cada passo que ela dava, a dor aumentava e a saudade era iminente. Logo estava desesperada.
Kenichi. Kenichi.
"Voltarei no porto de (...). Estará ao meu encontro?
- Estarei.
- Promete?
- Prometo!"
"Yamani-san, não quero descrever-lhe as cenas do meu dia-a-dia. Não quero manchar sua mente com cenas tão brutais. Ao invés disso, peço-te que me espere mais um pouco. Em abril, na época das sakuras, estarei retornando para casa. A guerra, enfim, está terminando...Fico imaginando como estará perto de nossa provincia? Provavelmente, as flores estão desabrochando. Lembra-se de quando, ainda meninos, costumavamos brincar no campo, enquanto as mulheres da vila colhiam as sakuras para o festival da primavera?"
Enfim, encontrou o cais. Havia um navio desembarcando mercadorias e outro, em que pessoas estavam retornando de suas viagens e reencontravam seus parentes. Ela se aproximou do navio e ficou parada, olhando com ansiedade pela saída de uma pessoa.
O Sol se pôs no horizonte. Quase todos foram embora, restava apenas Mariko, alguns marinheiros e uns poucos pescadores. Ela continuava a fitar o navio.
Um pouco distante, comentavam:
- É a Yamani-san?
- Hai, ela mesma!
- Todos os anos é a mesma coisa. Nunca falha.
- Nunca falha. E sempre nessa mesma época.
- Sim, é época de sakura. Provavelmente está esperando alguém que já partiu...
- Sim, é muito triste.
- Muito. Você conhece essa história?
- Hai. Tudo começou quando ela ainda tinha catorze anos...
* * * * * *
Monday, October 23, 2006
É tempo de Sakura...
Posted by Karina Tiemi at 11:09 AM
Labels: Meus contos
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2 comments:
Kari agora especialista em textos tristes... rsrs... Lindo esse. Não sei pq, me lembrou Rurouni Kenshin (acho que foi surto de minha mente rsrs) Bjinhs!
Espera esse texto num tem a ver com seu tão esperado sonho né?! Fala sério, também lembrei de alguma história de mangá, mas me esclarece fiquei na dúvida, vim aqui curiosona pra ler sobre o sonho, mas dei uma viajada nesse texto lindo ai rsrs! beijos
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