A rotina não é só algo enfadonho, mas, também, é perigosa.
Esse era o pensamento de Jacko Fung, mais conhecido por Jack, um rapaz alto com ombros largos, olhos puxados devido a sua origem oriental e cabelos negros presos em um curto rabo de cavalo.
Não há nada mais mortal do que a rotina, prosseguia ele, mentalmente.
Acordar no mesmo horário, comer no mesmo horário, sair de casa no mesmo horário ir para o trabalho no mesmo horário...Não há nada pior que isso. Além de alienar a mente e destruir a alma, há a possibilidade de se perder a vida. Se é que uma vida assim possa ser chamada de vida.
Tragou pela última vez e jogou o toco do cigarro na rua. Observou a brasa se apagar e em seguida voltou sua atenção para a casa do outro lado da rua.
Eram quase dez da noite. Nessa casa, Jack sabia muito bem, moravam cinco pessoas. E todas elas presas as suas rotinas desde sempre.
Eu não aguentei dois anos fazendo as mesmas coisas, quase enlouqueci. E essas pessoas se submetem a essa prisão por live e espontânea vontade.
Não.
Não por vontade própria, são obrigadas a isso, são obrigadas pela sociedade em que vivem, pelas leis desta sociedade. Entretanto, elas não parecem fazer questão de mudar isso. Estão acomodadas.
Será que elas realmente não percebem o quão deprimente é essa vida?
Será que Roberto, o pai de família perfeito com um bom emprego em uma empresa de médio porte, bom marido, honesto, será que ele tem prazer em viver assim? Não se cansa de todo dia, ao sair de casa, beijar a mesma mulher e, ao voltar, tomar o seu cálice de vinho na biblioteca, lendo Platão ou outro filósofo grego. Em seguida, desejar boa noite ao seu velho, no escritório deste e subir para a companhia da sua esposa que, até então, estava cuidando de sua estética com cremes, cremes e cremes, apenas para ficar perfumada e macia para seu marido? Então eles se amam. Amam mesmo? E finalmente dormem.
Enquanto isso, no quarto ao lado, a filha mais velha se prepara para sair escondida. Aos 16 anos, tudo é aventura para ela. Seus pais proibiram-na de namorar, mas isso realmente só tornou o jovem Carlos ainda mais desejável. Tsc. Olha ele chegando na moto do irmão mais velho que pegou, obviamente, escondido. E lá vão o jovem casal. Com muita sorte, essa menina não volta grávida hoje.
No quarto em frente ao de Marisa, fica o do seu irmão, que, ao invés de dormir, está com os olhos grudados na televisão, tentando terminar a todo custo aquele jogo da moda e ouvindo a música do momento no volume máximo do seu tocador de mp3.
Para terminar, o único que realmente me interessa: o velho. É o único acordado, está sozinho no seu escritório, remexendo em documentos velhos e perdido em seu passado obsceno. Não consegue imaginar que, dentro de poucos minutos, um assunto que ele julgou enterrado irá surgir á tona. Enquanto isso, ele devora devagar pedaços de queijos gordurosos, sujando as mãos e lambendo os dedos. Nem sequer sente remorso enquanto relembra de tudo que ele fez, de todas as vidas que destruiu. Ele simplesmente segue sua rotina, a qual me possibilitou saber exatamente quando e onde ele iria estar sozinho. Rotina é uma coisa perigosa, isso eu aprendi nesses dois anos que passei na cadeia.Bem, Jack meu querido, está na hora de agir.
Jack atravessou a rua e, sem cerimônia, pulou o cercado do jardim. Sorrateiramente, seguiu pela lateral da casa, até alcançar a porta da sala de estar. Com uma cópia da chave, abriu a porta e entrou.
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Eu não ia postar isso agora, mas tô sem texto e realmente fazia um tempo que eu não atualizava aqui!