- Vamos logo, Elisa!
- Mas os elevadores estão proibidos!
- Mas se não fizermos isso, chegaremos atrasadas!!
Nós estavamos discutindo em um luxuoso quarto de um prédio comercial. Sim. Quarto, com cama e guarda roupas, em um prédio comercial.
- Ai, isso não vai dar certo...- resmungou a garota de descendência indígena e cabelos longos ondulados. Seus olhos amendoados refletiam a sua preocupação em estar fazendo algo errado.
Eu já estava irritada com a indecisão de Elisa. Por fim bufei e, praticamente arrastando-a, caminhei até o hall dos elevadores. Estava vazio.
- E esse elevador que não chega nunca!! - comentei.
- Talvez por que elesestejam...Dããã...Ahhh...Proibidos??? - comentou Elisa, sarcasticamente. E FOLGADAMENTE.
Não lhe dei bola e sorri quando finalmente a porta do elevador se abriu. Entramos e apertei o botão do térreo. Entretanto, assim que a porta tornou a se abrir, no andar desejado, nós demos de cara com um enorme e mal humorado segurança, que arregalou seus olhos por nos ver no elevador e já sacava o seu walk-talk para avisar a equipe de segurança, mas fui mais rápida e apertei o botão que fechava a porta.
- Eu avisei! Eu avisei! Eu disse, não disse? - repetia Elisa.
Eu a ignorava, pensando em um jeito de sairmos daquele prédio. Descemos no primeiro andar e corremos pelas escadarias. Já próximas á saída do térreo, novamente encontramos aquele segurança mala e a perseguição recomeçou.
Nós, porém, conseguimos driblar com facilidade a guarda e finalmente chegamos á rua, onde entramos em um táxi e seguimos para o nosso destino: a faculdade.
* * * * *
Era uma sala totalmente desconhecida, mas agíamos como se fossemos íntimas dos demais alunos. Enquanto a aula não começava, resolvemos brincar de pega-pega (?) com os meninos da sala.
A professora chegou no momento em que todos estavam se jogando em cima de mim e eu só sentia o peso de um japa de cabelos cumpridos em cima de mim.
A professora riu e apenas pediu para que todos se sentassem logo, pois tinha um aviso muito importante:
- Minhas crianças - disse ela, uma mulher de uns quarenta anos, cabelos curtos e loiros, olhos azuis. - Hoje temos uma aula muito importante! Hoje iremos aprender a nos defender dessa grande ameaça que paira sobre São Paulo.
Não, não era o PCC. Em grande estilo harryportiano - se é que existe tal termo - a professora estava ensinando como se defender de um monstro que devastara as cidades do interior e se aproximava da capital.
- Bom, dividam-se em duplas e prestem bastante atenção! Vocês devem sempre carregar com vocês, essas esponjas! - e ela mostrou inúmeras esponjas de variadas cores, mas as mais fortes eram as azuis - E aperta-las assim! Meninos, imaginem que vocês estejam apertando as...Bem...As esponjas das suas namoradas! Isso, com gosto! Exatamente dessa maneira!Apertem na direção do inimigo e vocês verão que irá surgir a barra de vida do monstro e quando ela esvaziar, vocês conseguirão derrotar o inimigo!!
Faltava apenas tocar uma música a lá melhores filmes americanos sobre força e coragem, para incetivar o discurso. Era quase um clima de guerra (ainda que com um monstro desconhecido) e patriotismo.
Entretanto, como também em um filme americano que atinge o seu climax, é nesse momento que uma forte ventania toma conta da sala. Rapidamente a sala de aula foi destruída e os alunos dispersados. Jogados em pequenos grupos pelo local, eles se agarravam em qualquer lugar que estivessem ao seu alcance.
Muitos não conseguiram.
Entre eles, a professora.
Eu me vi separadas de minhas amigas Alline e Elisa, e sentia meus dedos escorregarem do poste de luz com a pressão do vento, que na verdade era o ar sendo sugado pelo monstro. Sentia-me irremediavelmente perdida, mas foi então que senti uma mão me segurar. Olhei para cima. Era Marina. O que ela estaria fazendo ali? Tão longe de casa?Naquele momento não havia espaço para perguntas. Com uma força que desconhecia em minha amiga, Marina conseguiu nos manter seguras contra o vento.
Então tudo se acalmou.
Olhando ao redor, notei que sobraram poucas pessoas. E não podia chorar, não podia perder tempo. Explicando rapidamente á Marina o que estava acontecendo, nós nos aproximamos dos sobreviventes. Entre eles, um rapaz, que vou chamá-lo de Leonardo, por não conhecer o seu verdadeiro nome.
Léo disse que precisávamos encontrar as esponjas, mas elas haviam sido jogadas para longe, entre os destroços da faculdade.Formamos uma equipe de busca. Éramos em dez pessoas:Marina, Léo, eu, uma outra garota japonesa, que chamarei de Mia, dois amigos de Léo, Bruno e Rafael e mais quatro pessoas que tiveram pouca ou nenhuma participação, como os figurantes de LOST.E a nossa jornada começou.
Entre as ruas desertas e destruídas de São Paulo, mais precisamente no caos de uma avenida Paulista - e não estou falando do trânsito - caminhamos em direção ao metrô, local em que seria realizado o segundo confronto com nosso temido inimigo.
Descemos as escadas da estação Consolação e embarcamos no primeiro vagão, sem nem ao menos nos indagarmos por que diabos, em meio a tanta confusão, o metrô não sofrera nenhum dano e continuava a funcionar normalmente e...Pior, em uma cidade deserta, quem estava controlando o metrô?
Essas dúvidas, entretanto, não passaram em nossas mentes. Conversavamos poucos, pois temiamos perguntar pelos nossos amigos que não estavam ali presente, embora todos soubessem as respostas. Estava um clima de luto péssimo, sentia a angústia crescer dentro de mim, mas foi substituída por medo quando novamente vimos tudo ao nosso redor ser sugado pelo inimigo.
Novamente resistimos, embora não sem perdas, e o grupo diminuiu mais uma vez. Sobramos Marina, Léo, Mia e eu.Finalmente chegamos ao nosso destino. Era uma espécie daqueles brinquedos que as crianças vivem se pendurando, só que em proporções muito maiores. Era azul.
Escalamos sem muitas dificuldades, até eu. Foi então que o Léo finalmente encontrou as famosas esponjas e, inclusive, eram as azuis.
Eis que nos vem o flashback da aula.
Em nossas mentes, a professora repetia sua lição.
"- Bom, dividam-se em duplas e prestem bastante atenção! Vocês devem sempre carregar com vocês, essas esponjas! - e ela mostrou inúmeras esponjas de variadas cores, mas as mais fortes eram as azuis - E aperta-las assim! ".
Então Léo se prontificou a encarar o monstro, ele iria se sacrificar. Ele era parecido com o Keanu Reeves! (Não sei se com Neo ou Constantini, ainda que na cena do metrô lembrava "Velocidade Máxima").
Dessa vez, vimos o monstro. Era uma espécie de cobra gigantesca, mas com cara de dragão e de cabelos Loiros-palha-de-vassoura. Era surreal, para não dizer bizarro. Léo sacou as esponjas e as apertou com fúria. Era hilário. Mas no momento, fiquei desesperada. Percebi, então, que ele era meu grande amor e não podia perde-lo assim. Corri até ele e...Apertei as esponjas com fúria também...Ao som de "I can't live", do Air Supply.
E a barra de vida do monstro surgiu em nossa frente e com alegria vimos a cor amarela ir desaparecendo aos poucos. Quando sumiu de vez, o monstro desabou. E desabou também, o Léo.
Não sei por que só ele se foi.
Chorando, sentei-me em um canto. Nesse momento, em um prédio próximo, as luzes das janelas se acenderam, iluminando aquela trágica noite. A porta do prédio se abriu. E de lá, saiu um pastel...(não literal, fique bem entendido).
Ele aproximou-se de mim e, cruelmente, disse:
- Ainda bem que ele morreu!
E minha resposta, muito conexa com o assunto, foi:
- A culpa não foi minha! Eu só tô brincando!
Ele:- Sei.
Eu começo a rir loucamente. E a camêra vai se afastando, exatamente como no final de um filme.
Mas era apenas o final de um sonho...Muito louco!
* * * * *
Lembrei de uma conversa sobre sonhos que tive com uns amigos, no prédio de um amigo, há muitos dias atrás, sobre a interpretação de sonhos. Por favor, interpretem esse que, por mais que eu tente, ainda não consigo entender o significado essencial. Algumas coisas ali ou aqui, tenho as minhas idéiazinhas, mas, num geral, creio que foi só pra dar emoção...Já que na vida real não há nenhuma...Pelo menos não tão forte quanto as que senti durante esse sonho.